Segurança Alimentar em Açougues
Guia Completo para Atender às Normas da ANVISA e Garantir a Qualidade da Carne
A carne, rica em nutrientes e água, é suscetível à contaminação por microrganismos. Assegurar a segurança alimentar é crucial para proteger a saúde pública e oferecer um produto de qualidade aos consumidores. Este guia detalhado aborda as normas da ANVISA para açougues, detalhando os requisitos em cada etapa da cadeia de produção, desde o recebimento da carne até a venda ao consumidor.
1. Compreendendo o Mercado de Açougues no Brasil:
- Mercado em Evolução: O Brasil, gigante exportador de carne, também possui um mercado interno forte e em constante transformação. Novos formatos, como boutiques de carne e açougues premium, surgem para atender às demandas por cortes diferenciados e experiências gastronômicas.
- Demanda por Qualidade e Segurança: O churrasco, paixão nacional, impulsiona o consumo de carne, mas exige atenção à qualidade e segurança do produto. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e buscam carne de procedência confiável, manipulada de forma higiênica e com garantia de qualidade.
- Desafios do Setor: O mercado de açougues enfrenta desafios como a crise econômica, a concorrência com supermercados e a necessidade de constante atualização das normas e regulamentações.
2. Açougues: Serviços de Alimentação sob Legislações Específicas:
- Legislação Federal: A ANVISA, por meio da CVS nº 5 e da RDC nº 216, define as normas gerais para açougues, abrangendo:
- Instalações e estrutura física;
- Equipamentos e utensílios;
- Higiene e sanitização;
- Manipulação de alimentos;
- Controle de temperatura;
- Treinamento de manipuladores;
- Documentação e registros.
- Legislações Estaduais e Municipais: Além da legislação federal, cada estado e município pode ter suas próprias normas, complementando ou detalhando os requisitos da ANVISA. É importante consultar as leis e regulamentações locais para garantir a conformidade.
-
- Exemplos:
- Passo Fundo (RS): Lei nº 5.403/2019
- Minas Gerais: Resolução SES/MG nº 6693/2019
- Pará: Lei Nº 8838/2019
- Exemplos:
3. Roteiro Detalhado de Inspeção para Açougues:
Para exemplificar as normas da ANVISA, utilizaremos o roteiro de inspeção da Prefeitura de São Paulo (Portaria nº 2619), detalhando cada etapa da operação de um açougue:
3.1. Recebimento e Compra de Carnes:
Requisitos:
- Transporte:
- Veículos limpos, fechados, refrigerados ou isotérmicos;
- Temperatura adequada para o tipo de carne;
- Controle de tempo de transporte.
- Matéria-prima:
- Fornecedores licenciados pela vigilância sanitária;
- Documentação comprobatória da origem e qualidade da carne;
- Inspeção rigorosa da carne no recebimento.
- Verificação dos Produtos:
- Sistema de controle de qualidade para verificar a procedência, temperatura e estado de conservação da carne;
- Documentação que acompanha a carga (notas fiscais, certificados de qualidade).
- Armazenamento de Produtos de Limpeza:
- Local separado dos alimentos;
- Produtos devidamente identificados e rotulados;
- Segurança e proteção contra contaminação.
3.2. Armazenamento em Câmara Fria:
Requisitos:
- Temperatura:
- Carnes: +4°C;
- Pescado: +2°C;
- Congelamento: -18°C.
- Estrutura da Câmara:
- Revestimento liso, resistente e impermeável;
- Ausência de ralos ou grelhas;
- Fácil higienização.
- Monitoramento da Temperatura:
- Termômetro no lado externo da câmara;
- Aferição frequente da temperatura;
- Registro das temperaturas em planilha própria.
3.3. Geladeira, Freezer e Balcão Frigorífico:
Requisitos:
- Condições Gerais:
- Equipamentos em bom estado de conservação;
3.3. Geladeira, Freezer e Balcão Frigorífico (continuação):
Requisitos:
- Organização:
- Limpeza e organização interna;
- Estoque de produtos organizado e devidamente identificado.
- Descarte de Gelo:
- Espessura do gelo não superior a 1 cm;
- Descarte regular do gelo acumulado.
3.4. Manipulação de Carnes:
Requisitos:
- Boas Práticas:
- Implementação de um sistema de Boas Práticas de Fabricação (BPF) para garantir a higiene e segurança na manipulação da carne.
- Exemplos de boas práticas:
- Lavagem das mãos frequente e correta;
- Uso de uniformes limpos e adequados;
- Desinfecção de utensílios e equipamentos;
- Prevenção da contaminação cruzada.
- Desossa:
- Realização da desossa da carne resfriada em até 30 minutos.
- Materiais de Uso:
- Proibição de panos de prato;
- Uso de materiais descartáveis ou sanitizables.
- Contaminação Cruzada:
- Prevenção da contaminação cruzada por meio da:
- Separação de áreas de manipulação de carnes cruas e cozidas;
- Utilização de diferentes utensílios e equipamentos para cada tipo de carne;
- Higienização rigorosa das superfícies de trabalho.
- Prevenção da contaminação cruzada por meio da:
- Equipamentos:
- Material sanitário atóxico, bem conservados;
- Dispositivos de proteção e segurança.
3.5. Área de Exposição e Venda:
Requisitos:
- Embalagens:
- Proibição da venda de alimentos em embalagens rasgadas, furadas ou sujas;
- Utilização de embalagens adequadas para cada tipo de carne.
- Informação ao Consumidor:
- Produtos preparados ou fracionados na presença do consumidor:
- Nome do produto;
- Marca;
- Quantidade;
- Ingredientes;
- Preço;
- Validade.
- Produtos preparados ou fracionados na presença do consumidor:
- Carnes Frescas:
- Carimbo nas peças de carne fresca para identificação.
3.6. Manipuladores de Alimentos:
Requisitos:
- Treinamento:
- Treinamento em Boas Práticas de Manipulação de Alimentos para todos os manipuladores, ministrado por profissional qualificado.
- Conteúdo do treinamento:
- Higiene pessoal;
- Manipulação higiênica dos alimentos;
- Doenças transmitidas por alimentos.
- Higiene Pessoal:
- Unhas curtas, limpas e sem esmalte;
- Ausência de maquiagem e piercing;
- Uso de toucas ou protetores de cabelo.
- Uniformes:
- Cor clara, limpos e bem conservados;
- Troca frequente dos uniformes.
- Equipamentos de Proteção Individual (EPIs):
- Uso de EPIs adequados para cada atividade, como:
- Uniforme;
- Avental;
- Botas;
- Luvas;
- Capas.
- Uso de EPIs adequados para cada atividade, como:
4. Outros Tópicos de Inspeção:
- Documentação:
- Alvará de funcionamento;
- Licença sanitária;
- Registros de controle de temperatura;
- Registros de treinamento de manipuladores;
- Outros documentos exigidos pela legislação.
- Higiene das Instalações:
- Limpeza e sanitização frequentes de todas as áreas do açougue, incluindo:
- Paredes;
- Pisos;
- Tetos;
- Equipamentos;
- Utensílios.
- Limpeza e sanitização frequentes de todas as áreas do açougue, incluindo:
- Sanitários e Vestiários:
- Condições adequadas de higiene e limpeza;
- Equipamentos em bom estado de funcionamento;
- Fornecimento de papel higiênico e sabonete.
- Instalações/Edificações:
- Estrutura física adequada, com:
- Ventilação
- Estrutura física adequada, com:
4. Outros Tópicos de Inspeção (continuação):
Requisitos:
- Instalações/Edificações (continuação):
- Iluminação adequada;
- Abastecimento de água potável;
- Sistema de esgoto eficiente.
- Água:
- Qualidade da água potável;
- Análises frequentes da água;
- Sistema de armazenamento e distribuição adequado.
- Controle de Pragas e Resíduos:
- Implementação de um programa de controle de pragas para prevenir a contaminação da carne;
- Manejo adequado dos resíduos sólidos e líquidos.
5. Boas Práticas de Fabricação (BPF):
A implementação de um sistema de Boas Práticas de Fabricação (BPF) é fundamental para garantir a segurança alimentar em um açougue. As BPF abrangem:
- Manual de BPF:
- Elaboração e implementação de um manual de BPF que descreva os procedimentos para garantir a segurança e qualidade da carne.
- Controle de Processos:
- Implementação de um sistema de controle de processos para monitorar e garantir a qualidade da carne em todas as etapas da produção.
- Monitoramento e Análises:
- Realização de monitoramentos e análises frequentes para verificar a qualidade da água, do ar e das superfícies.
- Rastreamento:
- Implementação de um sistema de rastreabilidade para identificar a origem da carne e seus ingredientes.
6. Implementação das Normas da ANVISA:
Etapas para Implementar as Normas da ANVISA:
- Diagnóstico:
- Realizar um diagnóstico da situação atual do açougue em relação às normas da ANVISA.
- Planejamento:
- Criar um plano de ação para implementar as normas da ANVISA, definindo:
- Responsabilidades;
- Recursos;
- Prazos.
- Criar um plano de ação para implementar as normas da ANVISA, definindo:
- Treinamento:
- Implementação:
- Implementar as medidas de controle definidas no plano de ação.
- Monitoramento:
- Monitorar e avaliar a efetividade das medidas de controle.
- Melhoria Contínua:
- Buscar a melhoria contínua do sistema de gestão da segurança alimentar.
7. Benefícios de Seguir as Normas da ANVISA:
- Segurança Alimentar:
- Redução do risco de contaminação da carne e de doenças transmitidas por alimentos.
- Qualidade da Carne:
- Garantia de um produto de qualidade e seguro para o consumo.
- Confiança do Cliente:
- Aumento da confiança dos clientes na qualidade da carne do açougue.
- Competitividade:
- Diferenciação da concorrência e aumento da competitividade do negócio.
- Imagem Positiva:
- Fortalecimento da imagem positiva do açougue junto aos consumidores e autoridades sanitárias.
8. Recursos Adicionais:
- ANVISA: https://www.gov.br/anvisa/pt-br
- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: https://www.gov.br/agricultura/pt-br
A implementação das normas da ANVISA é fundamental para garantir a segurança alimentar, a qualidade da carne e o sucesso do seu açougue. Seguindo as boas práticas e investindo em treinamento e infraestrutura, você estará oferecendo um produto de qualidade aos seus clientes e construindo uma imagem positiva do seu negócio.
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